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Texto 1 para as questões de 1 a 7: Conto

 

UMA AMIZADE SINCERA

(1)      Não é que fôssemos amigos de longa data. Conhecemo-nos apenas no último ano da escola. Desde esse momento estávamos juntos a qualquer hora. Há tanto tempo precisávamos de um amigo que nada havia que não confiássemos um ao outro. Chegamos a um ponto de amizade que não podíamos mais guardar um pensamento: um telefonava logo ao outro, marcando encontro imediato. Depois da conversa, sentíamo-nos tão contentes como se nos tivés­se­mos presenteado a nós mesmos. Esse estado de comunicação contínua chegou a tal exal­tação que, no dia em que nada tínhamos a nos confiar, procurávamos com alguma aflição um assunto. Só que o assunto havia de ser grave, pois em qualquer um não caberia a veemência de uma sinceridade pela primeira vez experimentada.

(2)      Já nesse tempo apareceram os primeiros sinais de perturbação entre nós. Às vezes um telefonava, encontrávamo-nos, e nada tínhamos a nos dizer. Éramos muito jovens e não sabíamos ficar calados. De início, quando começou a faltar assunto, tentamos comentar as pessoas. Mas bem sabíamos que já estávamos adulterando o núcleo da amizade. Tentar falar sobre nossas mútuas namoradas também estava fora de cogitação, pois um homem não falava de seus amores. Experimentávamos ficar calados - mas tornávamo-nos inquietos logo depois de nos separar­mos.

(3)      Minha solidão, na volta de tais encontros, era grande e árida. Cheguei a ler livros apenas para poder falar deles. Mas uma amizade sincera queria a sinceridade mais pura. À procura desta, eu começava a me sentir vazio. Nossos encontros eram cada vez mais decepcionantes. Minha sincera pobreza revelava-se aos poucos. Também ele, eu sabia, chegara ao impasse de si mesmo.

(4)      Foi quando, tendo minha família se mudado para São Paulo, e ele morando sozinho, pois sua família era do Piauí, o convidei a morar em nosso apartamento, que ficara sob a minha guarda. Que rebuliço de alma. Radiantes, arrumávamos nossos livros e discos, preparáva­mos um ambiente perfeito para a amizade. Depois de tudo pronto - eis-nos dentro de casa, de braços abanando, mudos, cheios apenas de amizade.

(5)      Queríamos tanto salvar o outro. Amizade é matéria de salvação.

(6)      Mas todos os problemas já tinham sido tocados, todas as possibilidades estudadas. Tínhamos apenas essa coisa que havíamos procurado sedentos até então e enfim encontrado: uma amizade sincera. Único modo, sabíamos, e com que amargor sabíamos, de sair da solidão que um espírito tem no corpo.

(7)      Mas como se nos revelava sintética a amizade. Como se quiséssemos espalhar em longo discurso um truísmo que uma palavra esgotaria. Nossa amizade era tão insolúvel como a soma de dois números: inútil querer desenvolver para mais de um momento a certeza de que dois e três são cinco.

(8)      Tentamos organizar algumas farras no apartamento, mas não só os vizinhos reclamaram como não adiantou.

(9)      Se ao menos pudéssemos prestar favores um ao outro. Mas nem havia oportunidade, nem acreditávamos em provas de uma amizade que delas não precisava. O mais que podíamos fazer era o que fazíamos: saber que éramos amigos. O que não bastava para encher os dias, sobretudo as longas férias.

(10)    Data dessas férias o começo da verdadeira aflição.

(11)    Ele, a quem eu nada podia dar senão minha sinceridade, ele passou a ser uma acusação de minha pobreza. Além do mais, a solidão de um ao lado do outro, ouvindo música ou lendo, era muito maior do que quando estávamos sozinhos. E, mais que maior, incômoda. Não havia paz. Indo depois cada um para seu quarto, com alívio nem nos olhávamos.

(12)    É verdade que houve uma pausa no curso das coisas, uma trégua que nos deu mais esperanças do que em realidade caberia. Foi quando meu amigo teve uma pequena questão com a Prefeitura. Não é que fosse grave, mas nós a tornamos para melhor usá-la. Porque então já tínhamos caído na facilidade de prestar favores. Andei entusiasmado pelos escritórios de co­nhe­ci­dos de minha família, arranjando pistolões para meu amigo. E quando começou a fase de selar papéis, corri por toda a cidade - posso dizer em consciência que não houve firma que se reconhecesse sem ser através de minha mão.

(13)    Nessa época encontrávamo-nos de noite em casa, exaustos e animados: contávamos as façanhas do dia, planejávamos os ataques seguintes. Não aprofundávamos muito o que estava sucedendo, bastava que tudo isso tivesse o cunho da amizade. Pensei compreender por que os noivos se presenteiam, por que o marido faz questão de dar conforto à esposa, e esta prepara-lhe afanada o alimento, por que a mãe exagera nos cuidados ao filho. Foi, aliás, nesse período que, com algum sacrifício, dei um pequeno broche de ouro àquela que é hoje minha mulher. Só muito depois eu ia compreender que estar também é dar.

(14)     Encerrada a questão com a Prefeitura - seja dito de passagem, com vitória nossa - continuamos um ao lado do outro, sem encontrar aquela palavra que cederia a alma. Cederia a alma? Mas afinal de contas quem queria ceder a alma? Ora essa.

(15)    Afinal o que queríamos? Nada. Estávamos fatigados, desiludidos.

(16)    A pretexto de férias com minha família, separamo-nos. Aliás ele também ia ao Piauí. Um aperto de mão comovido foi o nosso adeus no aeroporto. Sabíamos que não nos veríamos mais, senão por acaso. Mais que isso: que não queríamos nos rever. E sabíamos também que éramos amigos. Amigos sinceros.

LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina. São Paulo: Rocco, 1998.

 

Questão 1. Você sabe que um conto possui a seguinte estrutura: situação inicial, conflito, clímax e desfecho. Nesse conto de Lispector, o conflito é instalado no texto quando

a.) ambos os amigo não conseguem mais guardar um pensamento sem que sintam a necessidade de revelá-lo ao outro.

b.) um dos amigos passa a ter problemas com a Prefeitura.

c.) os dois amigos passam a morar juntos.

d.) os amigos deixam de ter assunto para tratar um com o outro.

e.) ambos os amigos passam a não mais suportar a presença um do outro no mesmo espaço e, por isso, sentem-se felizes quando estão distantes.  

 

 

Questão 2. Aponte a alternativa correta quanto ao primeiro fato que reanimou o entusiasmo e pareceu revigorar a amizade dos dois e o motivo pela qual a situação acabou ficando pior:

a.) A mudança para o apartamento reanimou os dois, mas a situação acabou piorando porque eles passaram a ficar mais próximos fisicamente, e a falta de assunto diminuía a aflição que sentiam.

b.) A mudança para o apartamento reanimou os dois, mas a situação acabou piorando porque eles passaram a ficar mais próximos fisicamente, e a falta de assunto aumentava a aflição que sentiam.

c.) A mudança para o apartamento reanimou os dois, mas a situação acabou melhorando porque eles passaram a ficar mais próximos fisicamente, e a falta de assunto aumentava a aflição que sentiam.

d.) A leitura de livros feita por ambos reanimou os dois, mas as conversas sobre esses textos não durava muito.

e.) Os problemas com a Prefeitura reanimou a amizade dos dois, mas, quando ele foi solucionado, a falta de diálogo volta a aparecer na relação dos dois.

 

 

Questão 3. No décimo terceiro parágrafo, o narrador afirma que “Só muito tempo depois eu ia compreender que estar também é dar.” Quanto ao significado desse enunciado dentro do conto é possível afirmar que:

 

I- A “amizade sincera” diferencia-se do prazer de prestar favores ou de dar presentes.

II- Ainda que as atenções e os cuidados possam estar presentes no relacionamento entre dois amigos, não é isso que constitui uma verdadeira amizade, no sentido de tornar indispensável a presença do outro.

III- A amizade sincera é como fazer alguma coisa em benefício do outro.

 

De acordo com o contexto, é possível identificar que, explica(m) adequadamente o enunciado a(s) seguinte(s) afirmativa(s):

a.) apenas a I.

b.) apenas a III.

c.) apenas a I e a II.

d.) apenas a II.

e.) I, II e III.

 

 

Questão 4.(UTFPR - Adaptado) Leia as seguintes afirmações sobre o conto e, depois, assinale a alternativa correta.

 

I- O conto explora o contato com o profundo sentimento de solidão existencial, que até mesmo a amizade mais sincera não consegue superar.

II- Ele aponta para a relação de dois rapazes, cuja amizade os leva a superar qualquer obstáculo que encontram na vida a dois.

III- O conto aborda a busca de respostas às angústias existenciais que se tornam inevitáveis no cotidiano da vida moderna.

IV- A narrativa desmascara a questão da sinceridade numa amizade, demonstrando que, apesar do esforço das duas personagens, a amizade deles não é sincera, pois não conseguiram levar sua amizade adiante.

 

            Estão corretas somente:

a.) I e IV.

b.) I e III.

c.) II e III.

d.) II e IV.

e.) I, IIII e IV.

 

 

Questão 5. No período “Às vezes um telefonava, encontrávamo-nos, e nada nos dizíamos”, é possível afirmar que

 

I- ele é composto por três orações.

II- as orações relacionam-se por coordenação e por subordinação.

III- a terceira oração relaciona-se com as demais indicando uma oposição e, por isso, a conjunção e poderia ser substituída por mas sem alteração de sentido.

IV- há uma inadequação no uso da vírgula que separa as orações.

 

            As afirmativas que explicam adequadamente o período composto desta questão são

a.) I e II.

b.) I e IV.

c.) I, III e IV.

d.) I e III.

e.) I, II e III.

 

 

Questão 6. Volte ao conto e releia o segundo, o terceiro, o sexto, o sétimo, o oitavo e o nono parágrafos. Neles, o narrador, a fim de evidenciar algumas informações faz uso de

a.) um excesso de períodos simples.

b.) apenas orações coordenadas assindéticas e sindéticas.

c.) períodos compostos por subordinação.

d.) orações coordenadas sindéticas explicativas.

e.) diversas orações coordenadas sindéticas adversativas.

 

 

Questão 7. O narrador do conto é personagem, portanto narra a história na primeira pessoa, ou do singular, ou do plural. Entretanto, no excerto, "É verdade que houve uma pausa no curso das coisas", esse narrador-personagem produz uma frase em que emite uma opinião que não parece ser pessoal por fazer uso de uma

a.) oração subordinada substantiva predicativa.

b.) oração subordinada substantiva objetiva direta.

c.) oração subordinada substantiva subjetiva.

d.) oração subordinada substantiva objetiva indireta.

e.) oração coordenada sindética explicativa.

 

 

Texto 2 para as questões de 8 a 10: Tirinha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Questão 8. É possível estabelecer uma relação entre o conteúdo da tirinha e assunto do conto de Lispector, pois

a.) ambos os textos tratam da amizade verdadeira.

b.) os dois textos apontam para uma amizade entre dois garotos.

c.) ambos os textos abordam a amizade no aspecto da confidência, do relato de vida pessoal.

d.) os dois textos propõem uma reflexão acerca da importância da amizade e da confiança no outro.

e.) ambos tratam da amizade como algo importante para o desenvolvimento psicológico e social de qualquer indivíduo.

 

 

Questão 9. O humor da tirinha reside no fato de Charlie Brown

a.) ter dito ao amigo que precisa terminar a carta para assistir tv.

b.) assumir para o amigo que tem assistido a muita televisão.

c.) considerar que a televisão seja algo prejudicial para as amizades pelo fato de ele passar muito tempo diante dela.

d.) ter contado ao amigo que vai se dedicar mais à produção de cartas e à leitura.

e.) ter dito ao amigo que perde muito tempo diante da tv e, em seguida, acabar a carta para assistir a seu programa favorito.

 

 

Questão 10. No segundo e no quarto quadrinhos da tirinha, para falar de suas ações, Charlie Brown faz uso das seguintes construções sintáticas:

a.) duas orações subordinadas substantivas objetivas diretas.

b.) uma oração subordinada substantiva objetiva indireta e outra subordinada substantiva objetiva direta, respectivamente.

c.) uma oração subordinada substantiva predicativa e outra subordinada substantiva objetiva direta, respectivamente.

d.) duas orações subordinadas substantivas objetivas indiretas.

e.) uma oração subordinada substantiva objetiva direta e outra subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo, respectivamente.

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